Simbolo do Islamismo |
Símbolo do Islamismo: Profissão de fé escrita em árabe - "Não há outra divindade senão Deus e Maomé é o Seu profeta" (Lá Iláha Il`Allah Muhammad Raçul Allah). A recitação destas palavras constitui uma das cinco obrigações do crente islâmico.
Alcorão
Livro sagrado do Islamismo. O Alcorão é segundo a tradição a palavra de Deus, inspirada a Maomé, através do anjo Gabriel. Esta revelação ocorreu durante cerca de 23 anos. As revelações foram registadas pelos seguidores de Maomé, sendo mandadas compilar logo após a sua morte pelo califa Abu Becre. Por volta de 650, no reinado do califa Otman (644-656), fez-se uma publicação oficial do Alcorão. É composto por capítulos 114 (suras), subdivididos em 6616 versículos. Está ordenado em função da dimensão dos capítulos, sendo os primeiros os mais longos. Possui um estrutura muito fragmentada e repetitiva, que os crentes devem aprender de cor desde a infância. Encontramos nele várias dimensões:
1. Dimensão Religiosa. A sua mensagem fundamental é que existe apenas um único Deus, e só na obediência ao mesmo é possível atingir o Paraíso. Neste sentido são apresentados um conjunto de mandamentos e preceitos que o crente deve seguir. A pratica do bem é o meio mais referido, mas não é a única via.
2. Dimensão hermenêutica. O Alcorão, afirma-se como o corolário das duas grandes religiões que o precederam - o judaísmo e o cristanismo. Neste sentido são nele re-interpretados acontecimentos fundamentais da Tora dos judeus e dos Evangelhos cristãos, à luz do islamismo. Os judeus e os cristãos questionam não apenas as interpretações, mas também as modificações que sofreram algumas das suas histórias sagradas descritas no Alcorão.
3. Dimensão guerreira. O contexto histórico, caracterizado pelas lutas da afirmação e expansão do islamismo, está bem patente nos IX primeiros capítulos, os mais extensos. O Alcorão fornece a todos os que abraçam o combate de Deus, na guerra santa, um conjunto muito preciso de instruções como devem encarar e relacionar-se com os infiéis, assim como das recompensas a que terão direito no caso de morrerem, como repartir os saques e o que fazer com os prisioneiros.
4. Dimensão política. No Alcorão, ao contrário do cristianismo não existe uma delimitação entre a esfera religiosa e a esfera política. O Alcorão confira uma verdadeira organização social e política, de natureza teocrático, definindo as regras de relacionamento entre os seus membros, os princípios e formas de aplicação da justiça, assim como as respectivas penas. Define também com clareza a tipologia dos contratos comerciais, atividades lícitas e ilícitas, etc. .
O Alcorão, ao contrário da Tora dos Judeus ou dos Evangelhos dos Cristãos, condena ao inferno todos aqueles que fizerem modificações, adaptações ou interpretações simbólicas do texto sagrado, dado que o mesmo foi inspirado diretamente por Deus. O Alcorão afirma-se como um texto explicito, que qualquer crente pode ler e seguir no seu dia-a-dia. Não carece de explicações, nem interpretações de especialistas (sacerdotes, etc). É para ser levado à letra. Esta posição, denominada integrismo, é uma dos mais maiores problemas do islamismo, pois obriga os crentes a seguirem no século XXI, regras e condutas que foram pensadas para um contexto de guerra do século VII. O resultado aos olhos de um Ocidental, é o de centenas de milhões de pessoas vivendo num mundo completamente desfasado do seu tempo. .
Maomé
Maomé, nasceu em 570, na cidade de Meca. Orfão muito cedo começou por trabalhar como pastor. Aos doze anos começa a conduzir caravanas de camelos. Aos vinte dirige as as caravanas de uma viuva rica, sua prima, com quem acabará por casar cinco anos depois. Por volta de 610, na caverna de Hira, perto de Meca, terá sido visitado pelo anjo Gabriel, que lhe ordenou a sua missão e ditou os primeiros versículos do Alcorão. Maomé abandona a sua profissão de mercador e começou a pregar.
Devido ás perseguições que era vítima, em 622, foi obrigado a refugiar-se em Medina. Maomé era então um famoso chefe religioso, mas também num poderoso de chefe político-militar. Em 63O conquista Meca, tornando-a no centro da nova religião. Funda então um Estado teocrático, que alargou rapidamente o seu domínio a um crescente número de tribos árabes. Quando morre, a 8 de Junho de 632, nos braços da sua mulher preferida, deixa unificadas política e religiosamente um grande número de tribos árabes, mobilizadas para uma guerra santa que as levará de conquista em conquista até à Península Ibérica.
Representação gráfica de Maomé |
. Sultão Muhammad: A Mi'raj, ou Ascensão de Maomé, rodeado de anjos. Iluminura, c. 1650
. Difusão
O mundo Islão foi o produto até ao século XX de inúmeras guerras de conquista que se iniciaram ainda no tempo de Maomé. Nos últimos 50 anos a expansão do Islão é feita sobretudo à custa da emigração de milhões de muçulmanos para os países cristãos. Grandes regiões muçulmanas ou de influência muçulmana no mundo:
1. Islão Árabe.
Região onde a língua árabe é correntemente usada, embora os povos tenham histórias e culturas muito diversificadas. Podemos distinguir as seguintes sub-regiões: a) países do Médio Oriente (Iraque, Libano, Síria, Turquia, Kuwait, Dubai, Emirados Arabes Unidos, etc); b) países do norte de África ( Argélia, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Tunísia); c) Egito e Sudão.
2. Islão Africano. Abrange as regiões islâmicas ou islamizadas a sul do Sara (Nigéria, Niger, Costa do Marfim, Senegal, Guiné.Conakry, Guiné-Bissau, etc).
3. Islão Turco. Abrange a Turquia e a parte muçulmana de Chipre.
4. Islão Balcânico e Asiático. Na Europa abrange as regiões conquistados pelos muçulmanos, como Albânia, Kosovo, Bulgária, e mais a leste países como o Casaquistão e outros.
5. Islão Irano-Indiano. Concentra o maior número de crentes. Abrange uma vasta região constituído por países como o Irão, Afeganistão, Bangladesh, Paquistão.
6. Islão Malaio. Abrange países como a Indonésia, Siri Lanka e as Filipinas.
7. Islão de Emigrados. A principal região da emigração muçulmana está na Europa. Em alguns países como a França o número de muçulmanos é hoje muito expressivo no conjunto da população.
Problemas Atuais
A esperança depositada nos anos 50 e 60, no nacionalismo árabe, foi rapidamente substituída nos anos 70 e 80, pelos receios quanto às consequências da explosão do fundamentalismo islâmico. A partir dos anos 90 os receios deram origem ao terror provocado pelas matanças indiscriminadas dos terroristas em nome de Deus. O tema da "Guerra de Civilizações" entrou na gíria política.
A comunicação social internacional, depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, passou a associar o Islão a uma religião de fanáticos, intolerantes, que desprezam os direitos mais básicos dos seres humanos, em especial as crianças e mulheres. A dimensão espiritual do islão foi completamente ofuscada.
Na Europa, assiste-se presentemente ao nascimento de um movimento anti-islâmico. Diversos estados têm tomado medidas para conterem a sua propagação ou pelo menos as suas manifestações públicas, nomeadamente proibindo os seus símbolos.
O diálogo entre pessoas e crenças diferentes vai sendo substituído pelo ódio/medo, alimentado pela ignorância. Um terreno fértil para o desenvolvimento do fanatismo religioso.
Breve Bibliografia
2. Islão Africano. Abrange as regiões islâmicas ou islamizadas a sul do Sara (Nigéria, Niger, Costa do Marfim, Senegal, Guiné.Conakry, Guiné-Bissau, etc).
3. Islão Turco. Abrange a Turquia e a parte muçulmana de Chipre.
4. Islão Balcânico e Asiático. Na Europa abrange as regiões conquistados pelos muçulmanos, como Albânia, Kosovo, Bulgária, e mais a leste países como o Casaquistão e outros.
5. Islão Irano-Indiano. Concentra o maior número de crentes. Abrange uma vasta região constituído por países como o Irão, Afeganistão, Bangladesh, Paquistão.
6. Islão Malaio. Abrange países como a Indonésia, Siri Lanka e as Filipinas.
7. Islão de Emigrados. A principal região da emigração muçulmana está na Europa. Em alguns países como a França o número de muçulmanos é hoje muito expressivo no conjunto da população.
Problemas Atuais
A esperança depositada nos anos 50 e 60, no nacionalismo árabe, foi rapidamente substituída nos anos 70 e 80, pelos receios quanto às consequências da explosão do fundamentalismo islâmico. A partir dos anos 90 os receios deram origem ao terror provocado pelas matanças indiscriminadas dos terroristas em nome de Deus. O tema da "Guerra de Civilizações" entrou na gíria política.
A comunicação social internacional, depois dos atentados do 11 de Setembro de 2001, passou a associar o Islão a uma religião de fanáticos, intolerantes, que desprezam os direitos mais básicos dos seres humanos, em especial as crianças e mulheres. A dimensão espiritual do islão foi completamente ofuscada.
Na Europa, assiste-se presentemente ao nascimento de um movimento anti-islâmico. Diversos estados têm tomado medidas para conterem a sua propagação ou pelo menos as suas manifestações públicas, nomeadamente proibindo os seus símbolos.
O diálogo entre pessoas e crenças diferentes vai sendo substituído pelo ódio/medo, alimentado pela ignorância. Um terreno fértil para o desenvolvimento do fanatismo religioso.
Breve Bibliografia
Alcorão. Publico. Lisboa. 2010. Tradução Prof. Samir el Hayek
Alcorão. Europa-América. Lisboa. 2 vols. 1979
Islamismo
Ahmed, Akbars - Pós-Modernismo e Islão. Lisboa.I nstituto Piaget
Basbous, Antoine - O Islamismo - Uma Revolução Abortada ? . Lisboa. Ambar. 2004
Burgot, François-Que Islamismo aí ao Lado. Lisboa. Instituto Piaget
Chauvin, Gérard - Islão. Lisboa. Hugin
Elias, Jamal J.- Islamismo.Lisboa.Ed.70
Ferro, Marc - O Choque do Islão: Séculos XVII/XXI. Lisboa. Europa-América.2004
Guellouz, Azzedine - O Alcorão. Lisboa. Instituto Piaget.2004
Lopes, Margarida Santos - Dicionário do Islão. Lisboa. Ed.Notícias
Michel, Thomas - Um Cristão Apresenta a Sua Fé aos Muçulmanos/ Um Cristão Encontra o Islã. Lisboa. Apostolo da Oração. 2004
Nabham, Neuza Neif - Islamismo: De Maomé aos Nossos Dias.Atica.2002
Para Compreender o Islão. Rev. História.Lisboa.2004
Rodinson, Maxime - O Islão Político e Crença. Lisboa. Instituto Piaget
Rodrigues, António José - O Islão no Mundo. Lisboa. Hugin
Said, Edward W. - Orientalismo. Lisboa. Livros Cotovia. 2004
Thoraval, Yves - ABCedário do Islão.Lisboa.Público.2003
Maomé
Khalidi, Tarif - Jesus Muçulmano - Lisboa. Tágide. 2004
JUDAÍSMO
Introdução
O Judaísmo é considerado a primeira religião monoteísta a aparecer na história. Tem como crença principal, a existência de apenas um Deus, o criador de tudo. Para os judeus, Deus fez um acordo com os hebreus, fazendo com que eles se tornassem o povo escolhido e prometendo-lhes a terra prometida.
Atualmente, a fé judaica é praticada em várias regiões do mundo, porém é no estado de Israel que se concentra um grande número de praticantes.
Conhecendo a história do povo judeu
A Bíblia é a referência para entendermos a história deste povo. De acordo com as escrituras sagradas, por volta de 1800 a.C, Abraão recebeu um sinal de Deus para abandonar o politeísmo e viver em Canaã (atual Palestina).
Isaque, filho de Abraão, teve um filho chamado Jacó. Os doze filhos de Jacó deram origem às doze tribos que formavam o povo judeu. Por volta de 1700 a.C., o povo judeu migrou para o Egito, porém foram escravizados pelos faraós por aproximadamente 400 anos. A libertação do povo judeu ocorreu por volta de 1300 a.C. A fuga do Egito, foi comandada por Moisés, que recebeu as tábuas dos Dez Mandamentos no Monte Sinai. Durante 40 anos, ficou peregrinando pelo deserto, até receber um sinal de Deus para voltarem para a terra prometida, Canaã.
Jerusalém foi transformada num centro religioso pelo rei Davi. Após o reinado de Salomão, filho de Davi, as tribos dividiram-se em dois reinos: Reino de Israel e Reino de Judá. Neste momento de separação, apareceu a crença da vinda de um messias que iria juntar o povo de Israel e restaurar o poder de Deus sobre o mundo.
Em 721 a.C, começou a diáspora judaica com a invasão babilônica. O imperador da Babilônia, após invadir o reino de Israel, destruiu o templo de Jerusalém e deportou grande parte da população judaica.
No século I, os romanos invadiram a Palestina e destruíram o templo de Jerusalém e no século seguinte a cidade de Jerusalém, provocando a segunda diáspora judaica. Após estes episódios, os judeus espalharam-se pelo mundo, mantendo a cultura e a religião. Em 1948, o povo judeu retomou o caráter de unidade após a criação do Estado de Israel.
Os livros sagrados dos judeus
Imagem da Torá |
Rituais e símbolos judaicos
Os cultos judaicos são realizados num templo chamado de sinagoga e são comandados por um sacerdote conhecido por rabino. O símbolo sagrado do judaísmo é o memorá, candelabro com sete braços.
Memorá : candelabro sagrado.
Entre os rituais, podemos citar a circuncisão dos meninos (aos 8 dias de vida) e o Bar Mitzvah que representa a iniciação na vida adulta para os meninos e a Bat Mitzvah para as meninas (aos 12 anos de idade).
Os homens judeus usam a kippa, pequena touca, que representa o respeito a Deus no momento das orações.
Nas sinagogas, existe uma arca, que representa a ligação entre Deus e o Povo Judeu. Nesta arca são guardados os pergaminhos sagrados da Torá.
As Festas Judaicas
As datas das festas religiosas dos judeus são móveis, pois seguem um calendário lunissolar. As principais são as seguintes:
Purim - os judeus comemoram a salvação de um massacre elaborado pelo rei persa Assucro.
Páscoa (Pessach) - comemora-se a libertação da escravidão do povo judeu no Egito, em 1300 a.C.
Shavuót - celebra a revelação da Torá ao povo de Israel, por volta de 1300 a.C.
CRISTIANISMO
Os Precedentes do Cristianismo
Os fatores históricos do cristianismo são: em primeiro lugar, a religião israelita; em segundo lugar, o pensamento grego e, enfim, o direito romano. De Israel, o cristianismo tomou o teísmo. É o teísmo um privilégio único deste povo pequeno, obscuro e desprezado; os outros povos e civilizações, ainda que poderosos e ilustres, são, religiosamente, politeístas, ou, no máximo dualistas ou panteístas.
Israel tomou o cristianismo também, o conceito de uma revelação e assistência especial de Deus. Daí a ideia de uma história, que é desenvolvimento providencial da humanidade, ideia peculiar ao cristianismo e desconhecida pelo mundo antigo, especialmente pelo mundo grego.
Na revelação cristã é filosoficamente fundamental, básico, o conceito de uma queda original do homem no começo da sua história, e também o conceito de um Messias, um reparador, um redentor. Conceitos indispensáveis para explicar o problema do mal, racionalmente premente e racionalmente insolúvel. No entanto, o mundano e carnal Israel resistiu tenaz e longamente a esta ideia de uma radical miséria humana, e por conseqüência, à ideia de uma moral ascética.
Idolatrou a vida longa e próspera, as riquezas da natureza e a prosperidade dos negócios, as satisfações conjugais e domésticas, o estado autônomo e privilegiado, o poder e a glória - até esquecer-se de Deus. Perseguiu os Profetas, que o chamavam ao temor de Deus e à penitência, e recalcitrou contra os flagelos com que Jeová o castigava, até que Israel, ainda que contra a sua vontade, foi submetido à sujeição e à renúncia, tendo adquirido, através de dolorosas experiências, o triste sentido da vaidade do mundo. A solução integral do problema do mal viria unicamente do mistério da redenção pela cruz - necessário complemento do mistério do pecado original.
Quanto ao pensamento grego, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador das verdades reveladas, e como justificador dos pressupostos metafísicos do cristianismo; não, porém, como elemento constitutivo, essencial e característico, porquanto este é hebraico e cristão. E quanto ao direito romano, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador do novo organismo social, a Igreja, e não como constitutivo de seus elementos essenciais e característicos, que são próprios e originais do cristianismo.
Quanto ao pensamento grego, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador das verdades reveladas, e como justificador dos pressupostos metafísicos do cristianismo; não, porém, como elemento constitutivo, essencial e característico, porquanto este é hebraico e cristão. E quanto ao direito romano, deve-se dizer que entrará no cristianismo como sistematizador do novo organismo social, a Igreja, e não como constitutivo de seus elementos essenciais e característicos, que são próprios e originais do cristianismo.
Jesus Cristo
Entretanto, o verdadeiro criador do cristianismo, em sua novidade e originalidade, é Jesus Cristo. Pode ele dar plena solução ao problema do mal - solução que representa o maior valor filosófico no cristianismo - unicamente se é Homem-Deus, o Verbo de Deus encarnado e redentor pela cruz.
Diferentemente, a solução - ascética - cristã do problema do mal seria vã, como a estoica e todas as demais soluções filosóficas de tal problema, que ficaria, portanto, sem solução alguma. E, em geral, a pessoa de Cristo tornar-se-ia inteiramente ininteligível, se ele não fosse Homem-Deus.
Não é este o momento de fazer um exame crítico, filosófico e histórico, para determinar a personalidade de Cristo. Basta lembrar que, uma vez admitido e firmado o teísmo, logo se segue a possibilidade de uma revelação divina e da divindade de Cristo, para tanto, não precisando, propriamente, senão de provas históricas. Os argumentos em contrário não são positivos, históricos, mas apriorísticos, filosóficos; quer dizer, dependem de uma filosofia racionalista e ateia em geral, humanista e imanentista em especial.
Eis o esquema lógico da demonstração da divindade de Jesus Cristo. Devem ser examinados à luz da crítica histórica, antes de tudo, os documentos fundamentais, relativos à revelação cristã no novo testamento. E achamo-nos diante de uma personalidade extraordinária - Jesus Cristo, que ensinou uma grande doutrina, levou uma vida santa, afirmando-se a si mesmo como divino e comprovando explicitamente com prodígios e sinais - os milagres e as profecias - esta sua divindade. E como Jesus Cristo se tornou garantia de toda uma tradição que o precedeu - o Velho Testamento - , também se responsabilizou por uma instituição que a ele se seguiu - a Igreja Católica. A esta, portanto, coube interpretar infalivelmente a revelação judaico-cristã e, evidentemente, também a parte que diz respeito à queda original e à relativa reparação, a qual, por certo, pode dar origem, humanamente, a várias interpretações.
Não é este o momento de fazer um exame crítico, filosófico e histórico, para determinar a personalidade de Cristo. Basta lembrar que, uma vez admitido e firmado o teísmo, logo se segue a possibilidade de uma revelação divina e da divindade de Cristo, para tanto, não precisando, propriamente, senão de provas históricas. Os argumentos em contrário não são positivos, históricos, mas apriorísticos, filosóficos; quer dizer, dependem de uma filosofia racionalista e ateia em geral, humanista e imanentista em especial.
Eis o esquema lógico da demonstração da divindade de Jesus Cristo. Devem ser examinados à luz da crítica histórica, antes de tudo, os documentos fundamentais, relativos à revelação cristã no novo testamento. E achamo-nos diante de uma personalidade extraordinária - Jesus Cristo, que ensinou uma grande doutrina, levou uma vida santa, afirmando-se a si mesmo como divino e comprovando explicitamente com prodígios e sinais - os milagres e as profecias - esta sua divindade. E como Jesus Cristo se tornou garantia de toda uma tradição que o precedeu - o Velho Testamento - , também se responsabilizou por uma instituição que a ele se seguiu - a Igreja Católica. A esta, portanto, coube interpretar infalivelmente a revelação judaico-cristã e, evidentemente, também a parte que diz respeito à queda original e à relativa reparação, a qual, por certo, pode dar origem, humanamente, a várias interpretações.
O Novo Testamento
Como é notório, Cristo não deixou nada escrito, de sorte que o nosso conhecimento mais imediato em torno da sua personalidade, se realizou através dos escritos dos seus discípulos. Temos de Cristo testemunhas também pagãs, além das testemunhas cristãs; estas são extracanônicas e canônicas. Estas últimas, porém, são fundamentais e mais do que suficientes para o nosso fim. Cronologicamente, são elas as seguintes: Paulo de Tarso , os Evangelhos sinópticos e o Evangelho de São João.
Paulo de Tarso, na Cilícia, fôra um inteligente e zeloso israelita. Não conheceu Jesus Cristo durante sua vida terrena, mas, convertido ao cristianismo e mudado o nome de Saulo para o de Paulo, tornou-se o maior apóstolo do cristianismo entre os gentios ou pagãos, revelando-lhes em Cristo crucificado o Deus padecente, vítima e Salvador, que eles procuravam em suas religiões misteriosóficas - e não acharam.
Representação artista - Paulo de Tarso |
A vida de Paulo é caracterizada por muitas e longas viagens, realizadas para finalidades apostólicas. Para o mesmo fim escreveu Paulo as famosas cartas às comunidades cristãs dos vários centros da antiguidade, relacionados com ele.
As grandes viagens apostólicas de Paulo foram três e tiveram como ponto de irradiação Antioquia, tocando os centros mais importantes do mundo antigo: Jerusalém, Atenas e Roma.
Nesta cidade, encerrou a sua vida mortal com o martírio. Destarte ele se pôs em contato com todas as formas de civilização do Oriente helenista e do mundo greco-romano.
Quanto às Epístolas - escritas em grego - devemos dizer que não são cartas logicamente orgânicas e ordenadas, nem literariamente aprimoradas, tanto assim que podiam desagradar a um helenista refinado como Porfírio; são porém, densas de conteúdo, de forma incisiva e eficaz.
O problema que, sobretudo, preocupa Paulo é o do mal, do sofrimento, do pecado, de que acha a solução em Cristo redentor, crucificado e ressuscitado. É este o aspecto do cristianismo que mais o impressionou, de sorte que é ele, por excelência, o teólogo da Redenção. No Velho Testamento Deus tinha dado aos homens a lei que, devido à miséria do homem decaído, não tirava o pecado, embora fosse uma lei moral; pelo contrário, até o agradava, tornando o homem consciente de sua falta. No Novo Testamento, Deus, mediante a graça de Cristo, tira o pecado do mundo, embora nos deixando na luta e no sofrimento, que Paulo sentia tão profundamente.
Representação artística de São Mateus |
Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas - chamados evangelhos sinópticos - formaram um grupo à parte, por certa característica histórica e didática, que os tornaram comuns e os distinguiram do quarto evangelho, o de João, de caráter mais especulativo e teológico. O primeiro em ordem de tempo é o Evangelho de Mateus , o publicano, tornando em seguida um dos doze apóstolos. Escrito, originariamente, em aramaico e destinado ao ambiente palestino, foi em seguida traduzido para o grego e, nesta língua, transmitido. É o mais amplo dos Evangelhos e relatou amplamente os ensinamentos de Cristo. O segundo é o Evangelho de Marcos, que não foi discípulo direto de Cristo, mas nos transmitiu o ensinamento de Pedro. Foi escrito em grego e destinado a um público não palestino. O terceiro dos Evangelhos sinópticos é, enfim, o de Lucas , companheiro de Paulo, que o chamava "o caro médico" . Também ele não foi discípulo imediato de Cristo, e o seu evangelho foi também escrito em grego.
Representação artística de São João |
O quarto evangelho, inversamente - como o primeiro - foi escrito por um discípulo direto de Cristo, um dos doze apóstolos: João , o predileto do Mestre, testemunha da sua vida e da sua morte. O quarto Evangelho, juntamente com este valor histórico, tem um especial valor especulativo, teológico. Como Paulo pode ser considerado o teólogo da Redenção, João pode ser considerado o teólogo da Encarnação; Cristo é o Verbo de Deus encarnado para a redenção do gênero humano. Também o Evangelho de João foi escrito em grego; e, cronologicamente, é o último dos Evangelhos e dos escritos do Novo Testamento, os quais - no seu conjunto - podem se considerar compostos na Segunda metade do primeiro século, tomada com certa amplidão.
ZOROASTRISMO
ZOROASTRISMO
O zoroastrismo, também chamado de masdaísmo ou parsismo, é uma religião monoteísta fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam de Zoroastro. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. De acordo com historiadores da religião, algumas das suas concepções religiosas, como a crença no paraíso, na ressurreição , no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Tem seus fundamentos fixados no Avesta e admite a existência de duas divindades (dualismo), representando o Bem (Aúra-Masda) e o Mal (Arimã), de cuja luta venceria o Bem.
A religião pré-zoroastriana
A religião do Irã antes do surgimento do zoroastrismo apresentava semelhanças com a da Índia Védica, dado que as populações que habitavam estes espaços descendiam de um mesmo povo, os arianos (ou indo-arianos). Era uma religião politeísta, na qual o sacrifício dos animais e o consumo de uma bebida chamada haoma (em sânscrito: soma) desempenhavam nela um importante papel.
Os seres divinos enquadravam-se em duas classes, ambas de características positivas: os ahuras (em sânscrito: asuras; "senhores") e os daivas (em sânscrito: deivas; "deuses").
Zoroastro
Representação artística de Zoroastro e/ou Zarathustra |
Zoroastro ou Zarathustra, viveu na Ásia Central, num território que compreendia o que é hoje a parte oriental do Irã e a região ocidental do Afeganistão. Não existe um consenso em torno do período em que viveu; os acadêmicos tem situado a sua vida entre 1750 e 1000 a.C.. Sobre a sua vida existem poucos dados precisos, sendo as lacunas preenchidas por lendas.
De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zoroastro viveu no século VI a.C, pertencendo ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote.
Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu Manah ("Bom Pensamento") e que o conduziu até à presença de Ahura Mazda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas, sendo este o primeiro de uma série de encontros com Ahura Mazda, que lhe revelou a sua mensagem.
As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zoroastro. Após doze anos de pregação, Zoroastro abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na Báctria (região que se encontra no atual Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zoroastro e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino.
O principal documento que nos permite conhecer a vida e o pensamento religioso de Zoroastro são os Gathas, dezessete hinos compostos pelo próprio Zoroastro e que constituem a parte mais importante do Avesta ou livro sagrado do zoroastrismo. A linguagem dos Gathas assemelha-se à que é usada no Rig Veda , o que situaria Zoroastro entre 1500-1200 a.C. e não no século VI a.C. Vivia na Idade do Bronze, numa sociedade dominada por uma aristocracia guerreira.
Para alguns investigadores, muito mais do que o fundador de uma nova religião, Zoroastro foi antes um reformador das práticas religiosas indo-iranianas. Ele propôs uma mudança no Panteão dominante que ia no sentido do monoteísmo e do dualismo. Na perspectiva de Zoroastro, os ahuras passam a ser vistos como seres que escolheram o bem e os daivas o mal. Na Índia, o percurso seria inverso, com os ahuras a representarem o mal e os daevas o bem.
Zoroastro elevaria Ahura Mazda ("Senhor Sábio") ao estatuto de divindade suprema, criadora do mundo e única digna de adoração.
Outro conceito religioso por ele apresentado foi o dos Amesha Spentas ("Imortais Sagrados"), que podem ser descritos como emanações ou aspectos de Ahura Mazda. Nos Gathas os Amesha Spentas são apresentados de uma forma bastante abstrata; séculos depois eles foram transformados e elevados ao estatuto de divindades. Cada Amesha Spenta foi associado a um aspecto da criação divina.
Os Amesha Spentas são:
• Vohu Manah ("Bom Pensamento"): os animais;
• Asha Vahishta ("Verdade Perfeita"): o fogo;
• Spenta Ameraiti - ("Devoção Benfeitora"): a terra;
• Khashathra Vairya - ("Governo Desejável"): o céu e os metais;
• Hauravatat ("Plenitude"): a água;
• Ameretat ("Imortalidade"): as plantas.
Os Gathas revelam também um pensamento dualista, sobretudo no plano ético, entendido como uma livre escolha entre o bem e o mal. Posteriormente, o dualismo tornou-se cosmológico, entendido como uma batalha no mundo entre forças benignas e forças maléficas.
Atualmente os zoroastrianos dividem-se entre o dualismo ético ou o dualismo cosmológico, existindo também outros que aceitam os dois conceitos. Alguns acreditam que Ahura Mazda tem um inimigo chamado Angra Mainyu (ou Ahriman), responsável pela doença, pelos desastres naturais, pela morte e por tudo quanto é negativo. Angra Mainyu não deve ser visto como um deus; ele é antes uma energia negativa que se opõe à energia positiva de Ahura Mazda, tentando destruir tudo o que de bom foi feito por ele (a energia positiva de Deus é chamada de Spenta Mainyu). No final Angra Mainyu será destruído e o bem triunfará. Outros zoroastrianos encaram o dualismo no plano interno de cada pessoa, como a escolha que cada um deve fazer entre o bem e o mal, entre uma mentalidade progressista e uma mentalidade retardatária.
Os zoroastrianos acreditam que Zoroastro é um profeta de Deus, mas não é alvo de particular veneração. Eles acreditam que através dos seus ensinamentos os seres humanos podem aproximar-se de Deus e da ordem natural marcada pelo bem e justiça (asha).
A época aqueménida
Entre a morte de Zaratustra e a ascensão do Império Aqueménida no século VI a.C. pouco se sabe sobre o zoroastrismo, a não ser que se difundiu por todo o planalto iraniano.
Em 549 a.C. Ciro II derrotou Astíages , rei dos Medos, e fundou o Império Persa, que unia sob o mesmo ceptro os Medos e os Persas. A dinastia à qual pertencia, os Aqueménidas, adotaram o zoroastrismo como religião oficial do império, mas foram tolerantes em relação às religiões dos povos que nele viviam. Foi o rei Ciro II (dito O Grande) que libertou os Judeus do seu cativeiro e permitiu o regresso destes à Palestina. Provavelmente o primeiro rei persa que reconheceu oficialmente esta religião foi Dario I, como mostra uma placa de ouro na qual o rei se proclama devoto de Ahura Mazda.
Imperador Dario I |
Dario teve que combater um usurpador chamado Gautama, que se fazia passar por um filho de Ciro. Gautama ordenou a destruição de santuários pagãos que seriam restaurados por Dario. Por causa deste comportamento atribui-se por vezes a Gautama a adoção do zoroastrismo.
Os Medos possuíam uma casta ou tribo sacerdotal, conhecida como os Magi, que adotaram a religião de Zaratustra, não sem introduzir alterações na mensagem original e incorporando antigas concepções religiosas. Os Magi seriam a classe sacerdotal dos três grandes impérios persas. Casavam dentro do seu grupo e expunham os corpos dos mortos às aves de rapina, duas práticas que viriam a ser adotadas pelos zoroastrianos. Os sacerdotes recuperam os antigos sacrifícios e o uso do haoma. Os Amesha Spentas, inicialmente abstratos no pensamento de Zaratustra, foram personalizados e antigas divindades passaram a ser adoradas. Entre essas divindades (yazatas) estavam o Sol, a Lua, Tishtria (deus da chuva), Vayu (o vento), Anahita (deusa das águas) e Mitra.
Foram também erigidos grandes templos e altares de fogo ao ar livre. Ataxerxes II (404-358 a.C.) chegou mesmo a ordenar a construção de templos em honra de Anahita nas principais cidades do império. Durante este período foi também criado o calendário zoroastriano e desenvolveu-se o conceito do Saoshyant, segundo o qual um descendente de Zarastustra, nascido de uma virgem, viria para salvar o mundo.
A época arsácida e sassânida
Os Medos possuíam uma casta ou tribo sacerdotal, conhecida como os Magi, que adotaram a religião de Zaratustra, não sem introduzir alterações na mensagem original e incorporando antigas concepções religiosas. Os Magi seriam a classe sacerdotal dos três grandes impérios persas. Casavam dentro do seu grupo e expunham os corpos dos mortos às aves de rapina, duas práticas que viriam a ser adotadas pelos zoroastrianos. Os sacerdotes recuperam os antigos sacrifícios e o uso do haoma. Os Amesha Spentas, inicialmente abstratos no pensamento de Zaratustra, foram personalizados e antigas divindades passaram a ser adoradas. Entre essas divindades (yazatas) estavam o Sol, a Lua, Tishtria (deus da chuva), Vayu (o vento), Anahita (deusa das águas) e Mitra.
Foram também erigidos grandes templos e altares de fogo ao ar livre. Ataxerxes II (404-358 a.C.) chegou mesmo a ordenar a construção de templos em honra de Anahita nas principais cidades do império. Durante este período foi também criado o calendário zoroastriano e desenvolveu-se o conceito do Saoshyant, segundo o qual um descendente de Zarastustra, nascido de uma virgem, viria para salvar o mundo.
A época arsácida e sassânida
Persépolis recriada digitalmente |
Com a conquista da Pérsia por Alexandre Magno , em 330 a.C., o zoroastrismo sofreu um duro golpe, tendo a classe sacerdotal sido dizimada e muitos templos destruídos. O incêndio da capital do império, Persépolis, provocaria o desaparecimento de textos da religião conservados na biblioteca da cidade.
Durante o governo dos Selêucidas o zoroastrismo foi respeitado e geraram-se sincretismos entre este e a religião grega (por exemplo, ocorreu uma associação de Zeus a Ahura Mazda). Mas um verdadeiro renascimento do zoroastrismo só começa durante a dinastia dos Partos Arsácidas no século III a.C.. Nesta fase foi compilado o Vendidad, uma parte do Avesta que recolhe textos relacionados com medicina e rituais de pureza.
No período da dinastia Sassânida (224 a.C. - 651 d.C.) o zoroastrismo foi completamente restaurado graças à intervenção de Kartir e de Tansar. O zoroastrismo tornou-se a religião mais comum entre as massas, sendo praticado numa vasta área que ia do Médio Oriente às portas da China. Nesta época assistiu-se à formação de uma verdadeira "Igreja" zoroastriana centrada na Pérsia, foram banidas da prática religiosa as imagens, criou-se o alfabeto avestano e novos textos passaram a integrar o Avesta, tais como o Bundahishn e o Denkard. Ao contrário do período Aqueménida, este período ficou marcado pela intolerância em relação a outras religiões, tendo sido promovidas perseguições aos judeus e cristãos. O clero zoroastriano detinha um grande poder e assegurava que cada novo monarca fosse zoroastriano; pesados tributos recaíam sobre a população como forma de sustentar a forma de vida do clero.
A chegada do Islão
Apesar da conversão da Pérsia ao Islão após a conquista dos árabes no século VII, o zoroastrismo sobreviveu em algumas comunidades persas, agrupadas nas cidades de Yazd e Kerman. Os muçulmanos consideraram os zoroastrianos como dhimmis, ou seja, praticantes do monoteísmo (à semelhança dos judeus e dos cristãos) e como tal foram sujeitos a pesados tributos cujo objectivo era estimular a conversão ao Islão.
No século X um grupo de zoroastrianos deixou a Pérsia e fixou-se na Índia, na região do Gujarate. Lá estabeleceram uma comunidade local que recebeu o nome de "Parsi" ("Persas" na língua gujarate) e que permanece naquele território até aos nossos dias. Esta comunidade zoroastriana foi influenciada pelos tradições locais e as suas particularidades levam a que se fale em Parsismo. Até 1477 os Parsis não mantiveram contacto com os zoroastrianos que permaneceram no Irão. Nesse ano restabeleceu-se o contacto sob a forma de troca de correspondência que durou até 1768.
No século XIX a conquista da Índia pelos britânicos levaria a um confronto entre os valores tradicionais dos parses e os valores religiosos e culturais do Ocidente. John Wilson, um missionário cristão da Escócia, atacou a religião dos Parses, alegando que o dualismo presente era contrário ao verdadeiro espírito monoteísta. Martin Haug, um filólogo alemão, que viveu e ensinou em Puna durante a década de 60 do século XIX, concluiu que apenas os Gathas eram as palavras originais do profeta Zaratustra. Estes acontecimentos propiciaram o início de um movimento de reforma religiosa, que dividiu a comunidade zoroastriana entre aqueles que pretendiam um regresso a concepções que entendem como mais puras e próximas da mensagem inicial, rejeitando o excessivo ritualismo, e os tradicionalistas.
Doutrinas e crenças
Os masdeístas não representam seus deuses em esculturas e não têm templos.
Deixou traços nas principais religiões mundiais como o judaísmo, cristianismo e islamismo através das seguintes crenças:
• Imortalidade da alma;
• Vinda de um Messias;
• Ressurreição dos mortos;
• Juízo final.
A doutrina de Zaratustra foi espalhada oralmente e suas reformas não podem ser entendidas fora de seu contexto social. O indivíduo pode receber recompensas divinas se lutar contra o mal em seu cotidiano, como pode também ser punido após a morte caso escolha o lado do mal. Os mortos são considerados impuros, então não são enterrados, pois consideram a terra, o fogo e a água sagrados, eles os deixam em torres para serem devorados por aves de rapina.
Textos religiosos
O principal texto religioso do zoroastrismo é o Avesta. Julga-se que a actual forma do Avesta corresponde a apenas uma parte de Avesta original, que teria sido destruído em resultado da invasão de Alexandre o Grande.
O Avesta divide-se em várias secções, das quais a principal é o Yasna ("Sacríficios"). O Yasna inclui os Gathas, hinos que se julga terem sido compostos pelo próprio Zaratustra. O Vispered é essencialmente um complemento do Yasna. O Vendidad é a secção que contém as regras de pureza da religião, podendo ser comparado ao Levítico da Bíblia. Os Yashts são hinos dedicados às divindades.
Para além do Avesta existem os textos em palavi, escritos na sua maior parte no século IX.
Escatologia individual
A escatologia individual do zoroastrismo afirma que três dias após a morte a alma chega à Ponte Cinvat. A alma de cada pessoa percepciona então a materialização dos seus actos (daena): uma alma que praticou boas acções vê uma bela virgem de quinze anos, enquanto que a alma de uma pessoa má vê uma megera.
Cada alma será julgada pelos deuses Mithra, Sraosha e Rashnu. As almas boas poderão atravessar a ponte, enquanto que as más serão lançadas para o inferno; as almas que praticaram uma quantidade idêntica de boas e más acções são enviadas para o Hamestagan, uma espécie de purgatório.
As almas elevam-se ao céu através de três etapas, as estrelas, a Lua e o Sol, que correspondem, respectivamente, aos bons pensamentos, boas palavras e boas acções. O destino final é o Anagra Raosha, o reino das luzes infinitas.
Sacerdócio
Existem três graus de sacerdócio no zoroastrismo contemporâneo. O sacerdócio tende a ser hereditário, embora não seja obrigatório que o filho de um sacerdote venha a seguir a profissão do pai.
Os sacerdotes de grau inferior recebem o nome de ervad, neste grau inicial é preciso conhecer de cor as escrituras do zoroastrismo, bem como a lei; desempenham apenas uma função de assistente nas cerimónias mais importantes da religião. Acima de si encontra-se o mobed[3] e por sua vez acima deste o dastur, que é responsável pela administração de um ou vários templos, por vezes comparado ao bispo do cristianismo.
Locais de culto
Templo de fogo na cidade iraniana de Yazd.
Os templos religiosos do zoroastrismo, onde se desenrolam as cerimónias e se celebram os festivais próprios da religião, são conhecidos como templos de fogo.
Estes edifícios possuem duas partes principais. A mais importante é a câmara onde se conserva o fogo sagrado, que arde numa pira metálica colocada sobre uma plataforma de pedra. Os sacerdotes zoroastrianos visitam o fogo cinco vezes por dia e procuram mantê-lo aceso, fazendo oferendas de sândalo purificado. Recitam também orações perante o fogo com a boca tapada por um tecido, de modo a não contaminarem o fogo. Este respeito pelo fogo sagrado levou a que os zoroastrianos fossem chamados de "adoradores de fogo", o que constitui um erro, na medida em que o fogo não é adorado em si, mas como um símbolo da sabedoria e luz divina de Ahura Mazda. Os templos de fogo mais importantes do Irão e da Índia mantêm uma chama de fogo sagrado a arder perpetuamente.
Rituais
Representação do Navjote |
O zoroastrismo não determina que os membros devam realizar um número obrigatório de orações por dia. Os zoroastrianos podem decidir quando e onde desejam orar. A maioria dos zoroastrianos reza várias vezes por dia, invocando a grandeza de Ahura Mazda. As orações são feitas perante uma chama de fogo.
O Navjote (ou Sedreh-Pushi como é conhecido entre os zoroastrianos do Irão) é uma cerimónia de iniciação obrigatória destinada às crianças zoroastrianas que deve acontecer entre os sete e os quinze anos de idade. É importante que a criança já conheça as principais orações da religião.
Antes da cerimonia começar, a criança toma uma banho ritual de purificação (Naahn). Durante a cerimonia, conduzida pelo mobed e na qual estão presentes familiares e amigos, a criança recebe o sudreh (ou sedra, uma veste branca de algodão) e o kusti (um cordão feito de lã) que ata na sua cintura. A partir deste momento o zoroastriano deve usar sempre o sudreh e o kusti.
O casamento zoroastriano implica dois momentos distintos. No primeiro os noivos e os seus padrinhos assinam o contrato de casamento. Segue-se a cerimonia propriamente dita durante a qual as mulheres da família colocam sobre a cabeça dos noivos um lenço; simultaneamente dois cones de açúcar são esfregados um contra o outro. O lenço é então cosido, simbolizando a união do casal. As festas do casamento podem prolongar-se entre os três e os sete dias.
Práticas funerárias
Uma torre do silêncio em ruínas.
Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deva ser rejeitado. Quando uma pessoa morre o seu espírito deixa o corpo num prazo de três dias e o seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza não se deve polui-la com um cadáver.
Na prática esta crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como Torres do silêncio (dokhma)
Após a morte um cão é trazido perante o cadáver, num ritual que se repete cinco vezes por dia. No quarto onde se encontra o cadáver arde uma pira de fogo ou velas durante três dias. Durante este tempo os vivos evitam o consumo de carne.
Os participantes no funeral vestem-se todos de branco, procurando-se evitar o contacto directo com o defunto. O cadáver (sem roupa) é então depositado numa torre do silêncio. Depois das aves terem consumido a carne, os ossos são deixados ao sol durante algum tempo para secarem.
Por motivos vários (relacionados por exemplo com a diminuição da população de aves de rapina ou com a ilegalidade desta tradição em alguns países) esta prática tem sido abandonada zoroastrianos residentes em países ocidentais e até mesmo no Irão e Índia, optando-se pela cremação.
Festas
As comunidades zoroastrianas atuais regem-se por três calendários diferentes:
• o Fasli (usado pelos Zoroastrianos Iranianos e alguns Parses);
• o Shahanshahi (usado pela maioria dos Parses); e
• o Qadimi (este último o menos utilizado de todos).
O que significa que as festas religiosas podem ser celebradas em diferentes dias, nestes calendários cada mês e cada dia do mês recebe o nome de um Amesha Spenta ou de um Yazata. Os zoroastrianos celebram seis festivais ao longo do ano - os Gahambars - cujas origens se encontram nas diferentes actividades agrícolas dos antigos povos do planalto iraniano e nas estações do ano.
O Noruz é o Ano Novo Persa, celebrado no dia 21 de Março no calendário Fasli (os parses celebram o Noruz em meados de Agosto). Por volta deste dia os zoroastrianos colocam nas suas casas uma mesa com sete itens: um vaso com rebentos de lentilhas ou de trigo, um pudim, vinagre, maças, alho, pó de sumagre, frutos da árvore jujube; outros elementos que enfeitam a mesa são moedas, o Avesta, um espelho, flores e uma imagem de Zaratustra. O Noruz é celebrado com o uso de roupas novas, com o consumo de pratos especiais, com a troca de presentes e com a celebração de cerimónias religiosas. O fogo tem nele um significado especial. Seis dias depois do Noruz os zoroastrianos festejam o nascimento de Zaratustra.
O zoroastrismo hoje
A comunidade zoroastriana existente no mundo contemporâneo pode ser dividida em dois grandes grupos: os Parses e os zoroastrianos iranianos. Em 2004, o número de zoroastrianos no mundo foi estimado entre 145.000 e 210.000. O Censo indiano de 2001 contabilizou 69.601 zoroastrianos parsis.
Na Índia os Parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade no domínio econômico, educativo e caritativo. Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia, desencorajando o proselitismo religioso. Vêem a sua fé como étnica.
Em geral os zoroastrianos iranianos mostram-se mais abertos a aceitar conversões. Concentram-se nas cidades de Teerão, Yazd e Kerman. Falam uma variante da língua persa, o Dari (diferente do Dari falado no Afeganistão). Receberam o nome de gabars, termo inicialmente com conotações pejorativas (no sentido de "infiel"), mas que perdeu muito da sua carga negativa.
Uma diáspora zoroastriana pode ser encontrada em países como o Reino Unido, Canadá (6 mil pessoas), Estados Unidos (11 mil pessoas) e Austrália (2700 pessoas) e nos países do Golfo Pérsico (2200 pessoas).
A UNESCO declarou o ano de 2003 como ano de celebração dos 3000 anos da religião e cultura zoroastriana, numa iniciativa proposta pelo governo do Tadjiquistão.
O Navjote (ou Sedreh-Pushi como é conhecido entre os zoroastrianos do Irão) é uma cerimónia de iniciação obrigatória destinada às crianças zoroastrianas que deve acontecer entre os sete e os quinze anos de idade. É importante que a criança já conheça as principais orações da religião.
Antes da cerimonia começar, a criança toma uma banho ritual de purificação (Naahn). Durante a cerimonia, conduzida pelo mobed e na qual estão presentes familiares e amigos, a criança recebe o sudreh (ou sedra, uma veste branca de algodão) e o kusti (um cordão feito de lã) que ata na sua cintura. A partir deste momento o zoroastriano deve usar sempre o sudreh e o kusti.
O casamento zoroastriano implica dois momentos distintos. No primeiro os noivos e os seus padrinhos assinam o contrato de casamento. Segue-se a cerimonia propriamente dita durante a qual as mulheres da família colocam sobre a cabeça dos noivos um lenço; simultaneamente dois cones de açúcar são esfregados um contra o outro. O lenço é então cosido, simbolizando a união do casal. As festas do casamento podem prolongar-se entre os três e os sete dias.
Práticas funerárias
Uma torre do silêncio em ruínas.
Os zoroastrianos acreditam que o corpo humano é puro e não algo que deva ser rejeitado. Quando uma pessoa morre o seu espírito deixa o corpo num prazo de três dias e o seu cadáver é impuro. Uma vez que a natureza é uma criação divina marcada pela pureza não se deve polui-la com um cadáver.
Na prática esta crença implicou que os cadáveres dos zoroastrianos não fossem enterrados, mas colocados ao ar livre para serem devorados por aves de rapina, em estruturas conhecidas como Torres do silêncio (dokhma)
Após a morte um cão é trazido perante o cadáver, num ritual que se repete cinco vezes por dia. No quarto onde se encontra o cadáver arde uma pira de fogo ou velas durante três dias. Durante este tempo os vivos evitam o consumo de carne.
Os participantes no funeral vestem-se todos de branco, procurando-se evitar o contacto directo com o defunto. O cadáver (sem roupa) é então depositado numa torre do silêncio. Depois das aves terem consumido a carne, os ossos são deixados ao sol durante algum tempo para secarem.
Por motivos vários (relacionados por exemplo com a diminuição da população de aves de rapina ou com a ilegalidade desta tradição em alguns países) esta prática tem sido abandonada zoroastrianos residentes em países ocidentais e até mesmo no Irão e Índia, optando-se pela cremação.
Festas
As comunidades zoroastrianas atuais regem-se por três calendários diferentes:
• o Fasli (usado pelos Zoroastrianos Iranianos e alguns Parses);
• o Shahanshahi (usado pela maioria dos Parses); e
• o Qadimi (este último o menos utilizado de todos).
O que significa que as festas religiosas podem ser celebradas em diferentes dias, nestes calendários cada mês e cada dia do mês recebe o nome de um Amesha Spenta ou de um Yazata. Os zoroastrianos celebram seis festivais ao longo do ano - os Gahambars - cujas origens se encontram nas diferentes actividades agrícolas dos antigos povos do planalto iraniano e nas estações do ano.
O Noruz é o Ano Novo Persa, celebrado no dia 21 de Março no calendário Fasli (os parses celebram o Noruz em meados de Agosto). Por volta deste dia os zoroastrianos colocam nas suas casas uma mesa com sete itens: um vaso com rebentos de lentilhas ou de trigo, um pudim, vinagre, maças, alho, pó de sumagre, frutos da árvore jujube; outros elementos que enfeitam a mesa são moedas, o Avesta, um espelho, flores e uma imagem de Zaratustra. O Noruz é celebrado com o uso de roupas novas, com o consumo de pratos especiais, com a troca de presentes e com a celebração de cerimónias religiosas. O fogo tem nele um significado especial. Seis dias depois do Noruz os zoroastrianos festejam o nascimento de Zaratustra.
O zoroastrismo hoje
A comunidade zoroastriana existente no mundo contemporâneo pode ser dividida em dois grandes grupos: os Parses e os zoroastrianos iranianos. Em 2004, o número de zoroastrianos no mundo foi estimado entre 145.000 e 210.000. O Censo indiano de 2001 contabilizou 69.601 zoroastrianos parsis.
Na Índia os Parses são reconhecidos pelas suas contribuições à sociedade no domínio econômico, educativo e caritativo. Muitos vivem em Mumbai (Bombaim) e têm tendência para praticar a endogamia, desencorajando o proselitismo religioso. Vêem a sua fé como étnica.
Em geral os zoroastrianos iranianos mostram-se mais abertos a aceitar conversões. Concentram-se nas cidades de Teerão, Yazd e Kerman. Falam uma variante da língua persa, o Dari (diferente do Dari falado no Afeganistão). Receberam o nome de gabars, termo inicialmente com conotações pejorativas (no sentido de "infiel"), mas que perdeu muito da sua carga negativa.
Uma diáspora zoroastriana pode ser encontrada em países como o Reino Unido, Canadá (6 mil pessoas), Estados Unidos (11 mil pessoas) e Austrália (2700 pessoas) e nos países do Golfo Pérsico (2200 pessoas).
A UNESCO declarou o ano de 2003 como ano de celebração dos 3000 anos da religião e cultura zoroastriana, numa iniciativa proposta pelo governo do Tadjiquistão.
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